Talvez seja do conhecimento do companheiro...
CLASSIFICAÇÃO SIGILOSA |
| ATIVA |
RESERVA
Prezado Cel X, que trabalha no Bloco "A” do QGEx aí em Brasília.
Soube que você andou criticando os companheiros da reserva, dizendo nos corredores coisas do tipo, “esse pessoal da reserva não tem mais o que fazer e fica falando besteiras por aí...”, “ou “.. agora que está na reserva ficou valente” e outras coisas.
Conheço você, não vou citar o seu nome em respeito ao seu cargo. Olha companheiro, estou na reserva porque trabalhei mais do que você, com certeza igual, ou melhor, e tenho a mesma experiência também. Aliás, fiz todos os cursos que você fez.
Você sabe por que o pessoal da reserva fica assim? Pois vou lhe dizer, mas logo logo você vai saber: na reserva nós refletimos mais, nós avaliamos com mais intensidade as coisas à nossa volta e, triste constatação, nós caímos na real.
Passamos 30, 35 ou 40 anos na ativa, envoltos na redoma das exigências profissionais, imensamente absorvidos com as nossas obrigações e com as “perspectivas” da carreira, as quais você conhece muito bem, já que é um investidor profissional. E o tempo passa...
O Exército nos envolve e aliena, verdadeiro paradoxo, não sei se isso é de todo bom ou ruim, certo ou errado. Na reserva, o buraco é mais embaixo. Você não sabe, mas vai pagar IPTU, ITBI, sabe o que é isso? Condomínio, taxa extra de condomínio, UNIMED e “UNIODONTO” para os filhos sem FUSEx, vai ter que fazer a manutenção da sua casa, do seu apartamento, pintar e recuperá-los periodicamente.
Pois é, vai pagar também a faculdade das “crianças” e não vai ter mais a grana que sobrava das transferências para trocar de carro e nem a merreca do adicional de férias. Isso tudo custa caro...
Aí a gente vê que trinta anos ou mais se foram e não nos preocupamos com essa realidade. Os encargos aumentam, a renda é a mesma - aliás, baixou depois daquela MP da traição de 2000, negociada por companheiros com perfil igual ao seu - e naturalmente questionamos numa boa os custos-benefícios das nossas realizações, o próprio EB e o Brasil. Isso é natural. Se ainda tiver de pagar prestação imobiliária aí danou-se tudo.
E você junto com seus amiguinhos empanados ainda ficam achando que é “correto o salário da reserva ser menor do que o da ativa”. Manda esses almofadinhas de camisa vincada e bolsa 007 acordar, estamos sabendo... Mas tenha a certeza que o seu dia está próximo, você não é eterno.... O seu “tufo” vai chegar, não está longe, é a realidade de todo mundo, mais cedo ou mais tarde, e aí babau SQN 103, babau jantarzinho pra puxar o saco.
Mas a reserva tem coisas boas e coisas ruins: não trabalho mais que nem você confesso que isso me dá saudades, viajo de vez em quando e faço uns “happy hours” com os amigos pra tomar cerveja vez por outra na praia.
Mas cuidado, a reserva é a trincheira dos miasmas, o reduto do ócio, do ácido úrico alterado, dos HGs que não marcam consulta, da insônia, da fila na SIP, dos HTs fedorentos, do colesterol alterado, do consignado da POUPEX, do contracheque que não chega, da mulher que envelhece, da carteira vazia, das medalhas jogadas num canto, do coturno empoeirado, da espada enferrujada e dos boletos pra pagar...
Está assustado? Estamos lhe aguardando companheiro.
Cel Lusitano Perneta
“ O limite da disciplina é a mudez por conveniência”
